Ultimamente têm sido muito difícil pensar em sonhos. Acho que passei da idade de sonhar, será? /eu e meu complexo de velhice again!
Creio que não. Sonhos pra mim são muito mais que uma questão de idade, e sim de interpretação, porém estou num momento da minha vida em que não me permito mais certas abstrações totalmente fora da minha realidade, como quando eu sonhava em ser escritora de sucesso internacional, cantora famosa ou simplesmente ter grana o suficiente pra viajar o mundo sem se importar com preços. Houve uma época da minha vida em que o que eu mais quis foi dinheiro, muito provavelmente por conta das dificuldades inúmeras pelas quais minha família passou e pela dificuldade de compreender que os valores sociais atuais estão pautados no consumo, no ‘ter’ ao invés de ‘ser’. Hoje eu até quero dinheiro, mas não vou morrer frustrada se não for podre de rica. Quero muito mais [ou muito menos, depende da interpretação] do que alguns zeros a mais na minha conta bancária. Quero pequenas realizações, quero uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais, quero dias de festa com meus amigos, saídas com minha família, realizar serviços na Igreja...
... parece pouco, mas me completa. E são pequenas coisas como essas que me fazem ter força pra lutar pra que sonhos maiores sejam realizados. Como todo mundo quero um futuro profissional promissor, um bom emprego, uma vida confortável, prosseguimento da minha vida acadêmica... quero muitas coisas que não basta apenas sonhar para conseguir, é necessário esforço e construção de alicerces prévios.
Além disso, mesmo sendo muitas vezes taxada de reacionária, eu também quero mudar o mundo. Sonho sim com uma sociedade mais justa, mais igualitária, onde o pobre não seja iludido com a perspectiva de aumento de poder de compra, de crescimento econômico calcado na ignorância como única alternativa de desenvolvimento do país, de cotas por cotas... quero reforma do ensino básico, quero alternativas de empregos pra todos, quero que o povo brasileiro seja retirado do poço da ignorância conveniente para aqueles que estão no poder.
Quero ainda mais do que isso: quero o fim dessa cultura de massificação, onde tudo é padronizado, onde implicitamente a beleza branquinha padrão do capitalismo é colocada como símbolo de boa índole, de pessoa amada e desejada, enquanto os que fogem deste padrão são pessoas descartáveis.
Estou sendo radical, sim. Mas brevemente, muitas vezes é assim que eu me sinto. Uma pessoa descartável, pela minha pele morena, a minha baixa estatura, o meu excesso de peso e o meu cabelo crespo. O pior é que os índices comprovam isso. É só abrir o Google e verificar que os menores salários e as mais altas taxas de pobreza são das mulheres [santo patriarcalismo ¬¬], sobretudo das negras ou com traços negroides [tipo assim ‘eu’ – meu querido preconceito racial velado]...
... ou seja, não é uma coisa a nível de ‘como a Nina se sente’, é um fenômeno de escala global, que quando é tocado muitas pessoas acham fútil...
... enfim, vamos vivendo sendo preteridas por sermos consideradas ‘feias’.
Eu sonho apenas com o dia em que a beleza padrão não será considerada referencial para contratação, para atração, para vontade de conversar... enfim, que essa merda de estereótipo padrão' não sirva pra nada.
/isso são frutos de um desabafo hiper produtivo que tive durante o ENG :)
PS: apesar dos apesares, eu me acho linda. E phoda-se que a sociedade não acha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário